Pesquisadores da Unicamp criam produto nutricionalmente rico e sustentável a partir da biomassa de microalgas
Invenção simples e de baixo custo pode ser aplicada nas indústrias alimentícia, cosmética e farmacêutica
A aplicação de combustíveis fósseis e de terra na agricultura está entre os principais responsáveis pelo aumento do dióxido de carbono na atmosfera. Por esse motivo, diversas biomassas vêm sendo consideradas para substituir esses materiais e solucionar os problemas ambientais causados. Esse é o caso das microalgas, que, além de serem amplamente estudadas como matéria-prima para biocombustíveis, também podem produzir lipídios de alto valor para as indústrias alimentícia, farmacêutica e de cosméticos.
Foi pensando nisso que pesquisadores da Unicamp criaram um processo para a obtenção de monoglicerídeos a partir do óleo de uma microalga rica em ácidos graxos da família do ômega-3 e que pode ser cultivada por meio de águas residuárias. A invenção utiliza uma purificação simples e de baixo custo para o óleo bruto extraído da biomassa da microalga e resulta em um produto nutricionalmente rico e de aplicação alimentícia mais vantajosa que o combustível.
A reação apresenta rendimentos compatíveis com os alcançados por meio da obtenção de óleos vegetais e de sementes. Entretanto, utiliza matéria-prima e catalisador mais ambientalmente corretos, uma vez que a produção de óleos de vegetais e de sementes causa desmatamento, erosão do solo e perda da biodiversidade. A presente tecnologia, por sua vez, pode ser integrada a indústrias já existentes, como a sucroalcooleira, que tem em seus resíduos uma importante fonte de alimentos para o crescimento das microalgas.
Embora necessite de altas temperaturas para atingir uma alta conversão, os gastos energéticos do processo podem ser compensados pelo uso do catalisador heterogêneo. Além disso, a avaliação do perfil de ácidos graxos do óleo revelou a estabilidade oxidativa dos ácidos graxos poli-insaturados, superando o desafio de instabilidade apresentados por óleos de grau alimentício. Como resultado, obteve-se um processo para uma reação bem-sucedida, com foco na sustentabilidade, mas que poderia ser cogitada para outra matéria-prima.